Desde os primórdios da minha jornada com software, uma coisa sempre me incomodou: a dependência dos relatórios embutidos no código. Aquela velha prática de enrijecer o sistema, de tal forma que cada vez que o cliente queria mudar uma fonte, um espaço, uma borda ou o posicionamento de uma coluna, era necessário reabrir o código-fonte, recompilar e reenviar uma versão. Um pesadelo.
O problema não era o layout em si, mas a cultura de que a aparência era mais importante que o conteúdo. E isso me fez parar para pensar: qual é o verdadeiro valor de um relatório?
A resposta é simples: os dados.
O Layout é Secundário
Por mais que o layout ajude na interpretação, ele é apenas uma camada estética sobre algo muito mais precioso: a informação. Dados bem organizados, limpos, fáceis de acessar e exportar, são infinitamente mais valiosos do que relatórios bonitos que não permitem reuso, comparação ou exportação.
Ideia Antiga, Solução Moderna
Desde os anos 80 eu já me sentia incomodado com a rigidez dos relatórios. A ideia de separar dados e layout surgiu justamente da frustração com pedidos intermináveis de alteração visual. Ainda não havia ferramentas adequadas para resolver isso, mas o conceito já estava lá.
Foi com o surgimento do Microsoft Word e do Excel que essa visão finalmente encontrou suporte real. Quando percebi que podia exportar dados em formatos que essas ferramentas entendiam, como o CSV, ficou claro: por que não deixar o usuário fazer o layout? Bastava fornecer os dados e alguns templates, e o resto ficava por conta dele.
Comparando com os Geradores de Relatório Tradicionais
Durante muitos anos, ferramentas como Crystal Reports, QuickReport, FastReport e ReportBuilder dominaram o desenvolvimento de relatórios. Cada uma tinha seus méritos:
- Crystal Reports: poderoso, visualmente rico, com suporte empresarial e integração com bancos diversos — mas complexo e caro.
- QuickReport: simples e integrado ao Delphi, mas pouco flexível.
- FastReport: evoluído, com exportação para diversos formatos e suporte a scripts.
- ReportBuilder: com abordagem orientada a objetos e herança de relatórios.
Apesar disso, todas mantinham um ponto em comum: o layout era controlado pelo desenvolvedor. O cliente sempre dependia de alguém técnico para ajustar espaçamentos, logos ou colunas.
Minha proposta é o oposto: dados em primeiro lugar, layout livre. Quando possível, deixar que o usuário edite diretamente no Word ou Excel. Isso reduz suporte, aumenta liberdade e empodera o usuário final.
Macro Substituição e Mascaramento de Campos
Um dos grandes desafios dessa abordagem é a macro substituição: permitir que o aplicativo abra um modelo e substitua marcações como {{name}}
, {{address}}
, etc.
Para isso funcionar bem:
- É ideal mascarar os nomes reais dos campos com apelidos intuitivos;
- Usar OLE Automation para abrir documentos, localizar marcações e substituir programaticamente;
- Salvar o resultado e apresentar ao usuário.
Caso Real: Uma Instituição Emissora de Procurações
Um exemplo foi o sistema que criei para uma instituição emissora de procurações aqui no Japão. Eles usavam modelos em Word e preenchiam manualmente. Criei um sistema com banco de dados, templates com marcações e preenchimento automático. A produtividade saltou de 5 para mais de 30 documentos por dia.
Anos depois, um sistema oficial foi adotado por diversas dessas instituições espalhadas pelo mundo incorporando várias dessas ideias.
O Poder Está nos Dados
Quando você permite que o usuário defina o layout, você muda o jogo. Reduz suporte, evita retrabalho, e educa o cliente sobre o que realmente importa: a inteligência está nos dados.
E assim nasceu minha filosofia: liberte os relatórios. Dê ao usuário o que ele precisa, os dados. A estética é importante, sim, mas deve ser configurável, adaptável e, principalmente, opcional.
O layout organiza, encanta, direciona.
Mas é o conteúdo que dá propósito ao que se vê.
Um bom sistema une forma e essência — estética que revela significado.