Introdução
Já vi muita coisa nesses anos de desenvolvimento. Gente que culpa a linguagem. Que diz que Delphi está ultrapassado, que C++ é complicado demais, que só Python ou TypeScript servem hoje em dia.
Mas a verdade — e aqui falo com convicção — é que a linguagem, por si só, nunca foi o problema. Pode ser TypeScript, Python, Go, C++, Delphi ou até Assembly.
Não importa qual linguagem você usa. Importa como você a usa.
Ferramenta não pensa. Quem pensa é você.
Você pode usar qualquer linguagem moderna — ou até uma das antigas. Se você domina o que faz, ela te leva longe. O problema raramente é a linguagem. O problema é quando o desenvolvedor não entende o que está fazendo.
Já vi gente evitar Delphi como se fosse um vírus, desprezar Pascal, debochar de C++. E depois... escrever sistemas frágeis, travando em produção — tudo em TypeScript, a linguagem “do momento”.
Linguagem sem domínio técnico não resolve nada. E domínio técnico não depende da linguagem.
O caso do Excel — e a confusão em que me meti
Uma vez, durante uma conversa com desenvolvedores japoneses, comentei:
“Não gosto de Excel.” Foi o suficiente para ser rotulado: “Ele odeia Excel.”
Mas como acontece com as linguagens, o problema não é a ferramenta. É o uso que fazem dela.
Eu conheço planilhas desde a década de 1980. Usei o SuperCalc antes mesmo do Excel existir. Naquela época, para abrir um aplicativo — ou até mesmo um arquivo — era preciso carregar os dados na memória a partir de uma fita cassete, literalmente. Usávamos gravadores como o AIKO e regulávamos o volume com precisão até que o computador (um TK-80, no meu caso) conseguisse “ouvir” o conteúdo da fita e carregá-lo. Era como tocar uma música — só que a melodia era código binário. Se o volume estivesse um pouco alto ou baixo demais, o programa simplesmente não carregava.
Então sim — usei muito Excel. E por isso mesmo sei onde ele funciona — e onde é usado de forma absurda.
Em muitos lugares, como aqui no Japão, o Excel virou o canivete suíço do escritório:
- Precisa de uma planilha? Excel.
- Precisa fazer um contrato? Excel.
- Precisa criar um crachá? Excel.
- Precisa montar um flyer ou cartaz? Excel também.
Excel é poderoso. Tem fórmulas, gráficos, VBA. Mas não foi feito para tudo.
Usar Excel para qualquer tarefa é como usar uma chave de fenda para apertar um parafuso Phillips: até dá… mas você pode danificar o parafuso.
A metáfora serve para qualquer linguagem
O que acontece com o Excel, acontece com as linguagens. Às vezes as pessoas forçam um uso inadequado de uma linguagem só porque “ela está na moda”.
Outras vezes, rejeitam linguagens extremamente eficientes só porque parecem antigas ou não são populares entre os influenciadores de plantão.
- Mas toda linguagem tem seu lugar;
- Toda linguagem tem limitações;
- E toda linguagem tem força nas mãos certas.
Escolher a linguagem certa não é uma questão de status. É uma decisão técnica, baseada no contexto, na equipe, no domínio do problema — e no domínio da ferramenta.
E quanto à máquina?
Já que estamos falando de ferramenta…
Vamos desmistificar mais uma coisa: a supermáquina não salva ninguém.
Já vi desenvolvedor comprar laptop de última geração achando que isso o tornaria automaticamente mais produtivo. Mas máquina rápida não compensa a falta de clareza sobre a linguagem utilizada.
Ter uma boa máquina ajuda, é claro. Mas ela não escreve algoritmos. Não projeta arquitetura. Não pensa. Ela só faz o que você manda — bem ou mal.
No TheCodeNaked...
Aqui no TheCodeNaked, a gente respeita todas as linguagens.
Mas não idolatra nenhuma.
Preferimos inteligência ao modismo. Clareza ao hype.
Código que funcione, que escale, que se sustente.